MAIS PRÓXIMOS DO QUE NUNCA!
A verdade é que percebi que a emoção está em mim e no outro, que eu continuo a senti-la e compartilhá-la, que continuo me emocionando e me sentindo abraçada, fazendo meus amigos queridos sorrirem e se sentirem amados, mesmo que não possamos estar no mesmo lugar ao mesmo tempo. As emoções viajam no tempo e no espaço, cruzam fronteira e nos transportam com elas.
A tecnologia, que às vezes nos distanciava nos almoços de família, hoje nos aproxima. E é por meio dela que eu e o Kulikyrda Mehinako, o Stive, seguimos em frente com o projeto Xingu. Ele lá na aldeia, eu aqui em São Paulo. Eles cantando e dançando em seus lindos rituais, eu no ritual do isolamento atrás da tela do computador.
Depois de muitas mensagens trocadas, matérias primas coletadas, cuidados de saúde tomados, o correio como meio de transporte essencial e uma amiga querida e pesquisador botânica incrível, a Maibe, da Mattricaria, nasceu a cartela de cores do Xingu, com base nas folhas e cascas das árvores utilizadas na construção, artesanato e rituais na aldeia.
A viagem para lá que precisei cancelar tornou-se aulas em vídeo, o Stive virou produtor e fotógrafo e hoje aprendo com as mulheres da aldeia a técnica para tecer uma esteira aqui no estúdio, em São Paulo. Trabalhamos juntos para criar as peças da nova coleção. Nos adaptamos, melhoramos, criamos novos caminhos, novas trajetórias, que com certeza nos levarão a outros lugares, ainda mais longe do que imaginávamos.
Esse novo desenrolar me deixou muito feliz, afinal eu estava contribuindo para que os trabalhos na aldeia continuassem, o que fazia bem para o emocional, abalado pelo momento desconhecido que vivemos, e também contribuía financeiramente, numa hora em que tudo de certa forma está em suspense, aguardando as cenas dos próximos capítulos.
Só que mesmo assim algo ainda não estava tranquilo dentro de mim, havia um incômodo, um “não espere o próximo capítulo” e sim ESCREVA-O! Mas como? O que eu poderia fazer? Foi ao conversar com o Expedito, meu amigo querido e artesão de Tiradentes, que entendi o que estava me incomodando de verdade: eu estava mantendo os trabalhos com os artesãos da aldeia Kaupüna, mas e todos os outros artesãos? Eu precisava fazer alguma coisa por eles também. Precisava trazê-los para mais perto, conectá-los, ser ponte, vitrine e voz.
Assim nasceu a Campanha Artesãos do Brasil!
Desde sua criação não parei mais nenhum minuto. Foi preciso montar a campanha, juntar todos os produtos, de todos os artesãos participantes, em uma planilha, coletar medidas, pesos e preços, calcular taxas da plataforma, impostos e estimar fretes. Estudar possibilidades de pacotes que fizessem sentido, para que todos fossem beneficiados. Com isso pronto, lançar a campanha que tem duração determinada de 30 dias. Achei que a partir do lançamento seria mais tranquilo, que nada! Aí é que começou o corre-corre, rsrsrsrs. Para a campanha ter sucesso era preciso divulgar, apresentar os artesãos, seus trabalhos, suas histórias, compartilhar fotos, explicar processos. Hoje estamos no 22º dia, estou exausta, mas não poderia estar mais feliz.
Sinceramente não esperava receber tantos apoios, de tanta gente bacana que adoro e admiro e de tantos que não conhecia e agora se tornam amigos que aguardo ansiosamente para um café com bolo de fubá quando nosso ir e vir voltar a preencher o mundo. É lindo demais poder conectar uma pessoa de Pernambuco ao trabalho do Expedito em Tiradentes, outra pessoa do Ceará ao trabalho da Deuzani no Vale do Jequitinhonha, e por aí afora! Sem me dar conta acabei por possiblitar viagens lindas 🙂
Tenho vontade de fazer como aqueles mapas que mostram os voos das companhias aéreas, onde aparece um mapa do mundo e várias linhas que unem pontos com nome de cidades, rsrsrsrs. Quem sabe não faço isso para mandar para vocês na próxima carta? Seria uma maneira bacana de mostrar que podemos continuar nos conectando, como numa liga pontos, onde cada um que entra se soma ao todo, fortalece, gera mais sorrisos, espalha mais amor, mais cultura, mais arte.
Hoje me sinto bem mais completa e quero sair por aí, mesmo que virtualmente, ajudando a completar um pouquinho do que estiver faltando em cada um. Vamos juntos comigo?
Sintam-se abraçados!
Maria Fernanda Paes de Barros