Amazonie Immersive
É com muita honra que nos dias 1, 2 e 3 de abril participei da Amazonie immersive, Art-Saveur-Tradition-Durabilité, promovida pela Déco Brésil, a Espirito Mundo e a Talk Gallery, em Bruxelas.
O evento reúne obras produzidas por artistas brasileiros, que resgatam a ancestralidade dos povos originários e tem como objetivo apoiar diferentes iniciativas na Amazônia e em outras áreas ambientalmente protegidas no Brasil.
Foram três dias de atividades que ocorreram em diferentes ambientes da Talk Gallery, criada em uma antiga fábrica de porcelana do século XIX, no coração de Bruxelas, classificada como patrimônio histórico e transformada em um espaço de arte e cultura internacional. Ao longo dos dias, aconteceram workshops, exposições de artistas brasileiros, instalações multimídia, oficinas com foco em produtos naturais, culinária típica, tradições e também um programa artístico de raízes brasileiras.
No primeiro dia, o evento contou com convidados internacionais e locais ligados a vários processos – econômicos, culturais e políticos – assim como um programa de arte e uma loja pop up no local. Os dois dias seguintes serão abertos para a participação do público com workshops e experiências diversas. Eu terei o prazer de promover dois workshops, compartilhando saberes e estimulando novas formas de olharmos o mundo.
Na sala Verrier da Galeria Talk, foram expostas 3 obras da Yankatu. Parte da venda dessas obras serão destinadas ao financiamento da construção de um sistema de filtragem para a sede – Associação de Moradores da Reserva Extrativista – AMORERI, uma rede de cantinas formada por 14 associações de comunidades indígenas e ribeirinhas, que envolvem mais de 600 famílias.
União
Essa é a mensagem mais forte da Árvore Yankatu.
Cada cultura possui diferentes comemorações e simbologias, mas todas sabem a importância de cada um para o bem-estar do todo. Precisamos somar forças, entendermos que no fundo somos todos irmãos, somos filhos da Terra, que ela e tudo que sobre ela vive, merece respeito, pois estamos todos conectados e a ação de um impacta a vida do outro, mesmo que este outro esteja a quilômetros de distância de nós.
Na ‘Árvore Yankatu’ criada em 2021 a convite do curador Waldick Jatobá para o hotel Tivoli Mofarrej, em São Paulo, e que hoje é o símbolo do evento Amazonie Immersive, essa importância é bem visível.
São mais de mil fios de buriti e algodão que se unem e juntos transmitem uma força incrível. Fios de buriti feitos pelas mulheres da aldeia Kaupüna, da etnia Mehinaku, no Território Indígena do Xingu, no Brasil. Fios que carregam saberes ancestrais, feitos a partir da união de delicadas palhas de buriti enroladas nas coxas em movimentos de vai e vem… À eles somam-se fios de algodão que recebem tingimento natural com mangarataia pela Mattricaria simbolizando o sol, a energia da vida que flui num fluxo constante.
A estrutura esculpida em jequitibá maciço inspirada nas ocas indígenas, lugares de abrigo e proteção, simboliza o acolhimento da vida, do sonho. Feita a partir de vários troncos ela reforça a mensagem: é preciso estarmos unidos para nos estruturarmos e construirmos um futuro melhor.
WORKSHOPS
Costumamos pensar que design é a concretização de uma ideia em forma de projetos ou produtos levando em conta as necessidades dos usuários. Aprendemos que um bom design deve ser bonito e funcional. Mas será que é só isso?
O design vai além de transformar matérias-primas em forma, função e beleza. Ele transforma vidas e é esse o grande sentido que deve estar por trás de cada criação. O design transforma a vida de quem irá utilizar o produto, mesmo que nem saiba que o está utilizando, mas ele também transforma a vida das pessoas que estão por trás da sua criação. Daqueles que extraem a matéria-prima e dos que a beneficiam, daqueles que vivem nos locais onde esta matéria-prima se encontra, daqueles que contribuem para a sua criação e produção, daqueles que estão refletidos em seus processos.
Nos dois dias de workshops que ministrarei durante a Amazonie Immersive pretendo mostrar que o design pode ir além, pode nos fazer mergulhar na nossa própria história e nos trazer conhecimento sobre as histórias dos outros, mostrando que somos sempre o resultado de uma soma e é aí que está a beleza de tudo.
