MESA BEIJU, 2020

Assistir a mãe de Kulikyrda, Kayanaku Aweti, fazer o tradicional beiju de mandioca sentada no chão, dentro da sua oca, me transportou para outra dimensão. Fiquei ali parada, olhando a cena como quem admira algo divino. A força de um povo, a sua resiliência, que os fazem insistir em permanecer quem são. Tudo ali era mágico. As cores do fogo sob o tacho de barro, em diversos tons de laranja, refletiam no chão de terra batida. As mãos faziam suaves movimentos circulares, espalhando delicadamente os grânulos de mandioca até que uma camada fina ocupasse toda a dimensão da superfície. Aos poucos os grãos aquecidos pelo calor se uniam, formando uma massa única que só então era considerada pronta para consumo. Queria eu que houvesse um fogo capaz de delicadamente unir todos nós, seres humanos, em um único grupo, sem distinção de cor, crença ou gênero.

A troca faz parte de muitas culturas indígenas. Chamada “moitará” e feita tradicionalmente pelas mulheres, ela consiste em dispor sobre uma esteira aquilo que se tem para oferecer, ao mesmo tempo em que se diz o que precisa. Quem tem aquilo que foi pedido e quer o que foi ofertado levanta-se e retira o objeto de cima da esteira. Esse movimento continua até que todas as mulheres tenham disposto sobre a esteira o que trouxeram e falado o que gostariam de receber em troca, só então as mulheres deixam o lugar para irem buscar as peças e depois retornarem para entregar a quem de direito, consumando a negociação. Algo que parece tão simples, mas que demonstra entendimento, respeito e principalmente confiança. Uma lição e tanto para nós, estrangeiros por assim dizer, que depois de termos sofrido alguns golpes na vida tendemos a desconfiar de tudo e todos.

O povo Mehinaku cria cestos e esteiras com talos de buriti, redes feitas com fios enrolados com as mãos que vão e vêm sobre as coxas, bancos zoomorfos esculpidos em madeira, mas não tem a tradição de trabalhar com o barro, essa é uma arte da etnia Waurá. Para poderem fazer o beiju é necessário realizar a moitará, a base de sua alimentação depende da troca, do respeito e da confiança. Alimentos para a vida.

MATERIAIS

Madeira cabreúva maciça e colares de miçangas

 

MEDIDAS

12 5/8 x Ø 47 1/4 in
32 x Ø 120 cm

 

PROVENIÊNCIA

Colares de miçangas tradicionalmente utilizados em rituais, feito por Kayanaku Aweti, aldeia Kaupüna, Território Indígena do Xingu, MT- Brasil

 

EXPOSIÇÕES

2021 | Exposição Passagem | SP-Arte Viewing Room | Exibição online

2021 | 30 Sec of Design | Design Pier, Hong Kong | Exibição online

 

EDIÇÃO

Edição limitada – 08 peças

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