Orgânico – Arte na Praça

12 de junho 2021

Por definição, um produto “orgânico” é um produto vindo da agricultura biológica, mas hoje tudo é orgânico, desde roupas a tapetes biológicos, até água mineral e brinquedos são orgânicos … É uma confusão com o termo “ecológico”, às vezes uma questão “ética” ou simplesmente “eco-responsável” falando do que é concebido com materiais que respeitam o meio ambiente?

Em países onde a ecologia tem sido um modo de vida influenciando todos os estratos da sociedade, a diferença entre os conceitos “verde” e “orgânico” é mais claramente marcada. Este termo se refere a todos os produtos de uso diário com vocação ecológica ou reservados para produtos da agricultura orgânica. Falamos de “verde”, “amigo do ambiente” ou “sustentável”. O termo “orgânico” refere-se, sobretudo, ao produto da agricultura biológica.

Nas últimas décadas, o mundo mudou rapidamente em escala global, muito mais rápido do que nos milênios anteriores. Simplesmente colocar “eco” na frente das palavras não resolve suficientemente o desconforto experimentado pelas gerações atuais. Surge agora um novo conceito, a “solastalgia” neologismo que expressa um sentimento sentido por vários de nós ao redor do mundo hoje. É a sensação de desolação causada pela devastação de nosso habitat que define nosso tempo presente.

Para o mundo da arte, esse é um assunto chave. Exposições, bienais, debates, seminários abordam os temas do Antropoceno e do Simbioceno, palavra cunhada por Glenn Albrecht, filósofo, ambientalista e fazendeiro australiano. Ele defende uma visão do mundo que leve a humanidade a compreender positivamente as mudanças ecológicas em seu meio ambiente e a pensar de forma diferente sua relação com a natureza.

A relação dos artistas com a natureza e a floresta tem se tornado um tema recorrente. Um número cada vez maior de obras procura expressar emoções positivas ou negativas causadas pelo atual estado do meio ambiente, arriscando-se inclusive na proposição de um conceito de coexistência harmônica. Com isso em mente, a  4ª edição do projeto da Circular – Arte na Praça Adolpho Bloch busca introduzir tal discussão e democratizar seu alcance por meio de obras de artistas brasileiros.

Logo abaixo você poderá conferir o Making Of da exposição:

curadoria
Marc Pottier

Patrocínio
SABESP e EMA

Apoio
Cidade de São Paulo

Realização
Farah Service

Obra: Passagem

Painel esculpido em madeira jequitibá maciça, preenchido com uma mistura feita com barro e uma pequena caixa de vidro incolor com sementes de tento.
Medidas: 202 H x 167 L x 3 P cm

Artista, designer e pesquisadora, Maria Fernanda Paes de Barros mergulha na ancestralidade de cada povoado, comunidade com que trabalha. Nestas imersões, troca experiências, aprende sobre costumes, crenças e artes que passam de geração a geração, buscando incorporar cada descoberta em suas obras, criando assim, peças que valorizam a arte, a delicadeza, a inspiração e as memórias de cada lugar. “Passagem” foi inspirada pela vivência da artista na Aldeia Barra Velha, da etnia Pataxó, no sul da Bahia e nos conceitos de Solastalgia (sentir saudades da nossa casa), Solifilia (sentimento positivo de unidade de interesses) e Eutierria, quando a relação homem-natureza é espontânea e enriquecedora.

Uma parede que reflete a passagem do tempo, um tempo que aos poucos lava as camadas do barro e deixa transparecer apenas aquilo que é essencial. Uma mistura de fragilidade e força cuja sensível impermanência deixa os poros abertos, como se nos despíssemos das inúmeras peles que nos são impostas pela sociedade em que vivemos e passássemos não apenas enxergar o outro, mas também a nos nutrirmos e aprendermos o que significa viver de verdade. Disposta de maneira que o público possa circular em torno dela, a estrutura em madeira jequitibá maciça esculpida em formas orgânicas intercala painéis feitos com uma mistura de barro, numa composição que abre espaço para uma “janela”, onde um punhado de sementes de Tento, apelidadas de Pau Brasil por sua cor vermelha, nos coloca em contato com a essência da vida.

Maria Fernanda Paes de Barros  + Kuyawalu “Priscila” Aweti + Kulikyrda “Stive” Mehinako (@stivemehinako)

Aldeia Kaupüna – Território Indígena do Xingu/MT – Brasil

Obra: Balanço Kaupüna

Tear com fios de buriti e de algodão coloridos unido à madeira maciça piranheira, decorada com grafismos tradicionais pintados com carvão e resina de pé de Ingá. 

Medidas: 200 H x 50 L x 30 P cm (considerando o tecido da rede com punho)

Designer e pesquisadora, Maria Fernanda Paes de Barros tem na leitura cultural sua verdadeira vocação. Em suas pesquisas ela mergulha na ancestralidade de cada povoado, comunidade ou grupo com que trabalha. Nestas imersões, a artista troca experiências, aprende sobre costumes, crenças e artes que passam de geração a geração, buscando incorporar cada descoberta em suas obras, criando assim, peças que valorizam a arte, a delicadeza, a inspiração e as memórias de cada um deles.

Um “novo produto indígena”, foi com essas palavras que Kulikyrda Mehinako descreveu o Balanço Kaupüna. Nele se encontram pela primeira vez o trabalho artesanal das mulheres, que colhem, limpam e preparam a palha de buriti para fazer o fio com o qual tecem suas tradicionais redes, e o dos homens, que adentram a floresta para encontrar árvores de onde tiram a madeira para criar bancos zoomorfos enfeitados com grafismos pintados à base de carvão e urucum. Totalmente executado na Aldeia Kaupüna nasce uma peça que une o desenho de uma designer paulista apaixonada pelo artesanato brasileiro à tradição artesanal indígena e vai mais além, ele marca a história da etnia, unindo homens e mulheres e mostrando toda a beleza e potencial que podem ser alcançados quando eles trabalham juntos. Emoção infinita, valor imensurável!

Obra: Entre O Céu E A Terra

Entre o Céu e a Terra é uma obra criada com Txahamehé Pataxó, que nasceu, cresceu e mora ainda hoje, com muito orgulho, na aldeia Barra Velha, no sul da Bahia, onde cria lindos adornos de flores feitas com penas.

SOMOS PARTE DA NATUREZA
“Por meio dela desejo que todos se sintam filhos da Terra, partes integrantes da natureza, para que deixemos de achar que ela nos pertence e passemos a ouvi-la e  espeitá-la como a mãe que ela é. A obra tem o ar como elo entre espiritualidade e  matéria. Nela flores de penas parecem brotar do solo ao mesmo tempo que caem do céu, enquanto espelhos trazem nosso reflexo para dentro da obra e salpicam luz em  seu entorno, nos integrando à natureza e tornando também nós caminhos que semeiam esperança.”
Fée

Entre o Céu e a Terra. Para entendê-la é preciso vivê-la, sentir-se parte, integrar-se, ser você mesmo a conexão capaz de levar adiante a mensagem de Arassari Pataxó:
“Somos todos filhos da Terra”.

Abaixo você confere a matéria sobre a exposição produzida pelo Canal Arte 1:

Catálogo

<