Rondinelly Santos, mais conhecido como Nelinho, transforma a madeira em arte através de suas mãos.

Foto: João Bertholini

Utilizando goivas e formões cria volutas, gavinhas de folhas de acanto e grinaldas de flores com uma facilidade de nos fazer perder o fôlego. Tive a oportunidade de conhecê-lo durante as imersões da PRIMEIRA SEMANA CRIATIVA DE TIRADENTES (Minas Gerais, 2017), e não larguei mais!

Observá-lo trabalhar é como embarcar numa jornada no tempo, de volta a segunda metade do século XVIII quando o então Rococó, que vinha da Europa, trazia consigo mais luz e leveza e remetia à ideia da alegria de viver, características essas que transparecem na suavidade e delicadeza com que as mãos de Nelinho entalham a madeira.

Fui recebida com um sorriso tímido e um olhar doce e me encantei desde o início com a simplicidade e paixão com que Nelinho descrevia seu ofício e desenhava, com traços firmes, arabescos onde não encontramos começo nem fim. Sua timidez aos poucos foi dando lugar a uma autoconfiança de quem sabe o que faz e já nasceu com este dom, e dentre seus vários pedidos de obras de arte sacra ele abriu espaço para o novo.

Quando percebi ele havia esculpido a Serra de São José, não apenas seu contorno, mas seu relevo e os caminhos dos mensageiros de antigamente. Esta liberdade para criar gerou um resultado totalmente diferente do que ele estava acostumado, mas feito com a mesma sensibilidade. E foi esta sensibilidade que eu procurei destacar na Cômoda Rococó, apresentada, como preview da Coleção Artesãos, durante a SP-Arte 2018.

O desenho fluído de Rondinelly ganhou vida através do entalhe e perpassou por todas as gavetas da cômoda unindo-as sutilmente, como nossa passagem pela Semana Criativa fez conosco.