Há um tempo atrás contei para vocês como eu e o Marcelo nos conhecemos, naquela época eu já admirava muito a pessoa e o profissional Marcelo Oséas mas hoje sei que não tinha ideia de todo potencial contido atrás daquele par de óculos.
Dividimos o espaço de trabalho no estúdio então foi impossível não acompanhar de perto sua pesquisa sobre culturas tradicionais, técnicas e materiais, até porque eu pesquiso os mesmos temas para desenvolver o meu trabalho. Mas o que realmente me encanta é a forma como ele entende e apresenta, através da fotografia, sua visão sobre os processos de assimilação ou não destes elementos culturais nativos pelas sociedades de consumo.
O convite para que ele fizesse uma exposição no estúdio não tardou e para minha alegria foi aceito de imediato, apesar da sua surpresa inicial.
Mais uma coincidência nas nossas histórias, antes mesmo dele mudar seu estúdio para o mesmo espaço que o meu, ambos já pretendiam realizar seus novos trabalhos no Pará. Como eu estou desenvolvendo a próxima coleção Alma-Raiz, que será lançada em agosto deste ano, com a comunidade de Urucurueá, onde o tingimento da palha de tucumã é parte do processo de teçume, o local acabou sendo parada obrigatória para Marcelo, que pesquisava os pigmentos naturais para seu trabalho fotográfico. Tive o grande prazer de apresenta-lo à comunidade e de lá ele saiu com tubos repletos de pigmentos como mangarataia e crajiru, utilizados no processo de pigmentação das imagens que compõem a exposição “Uma crônica Munduruku”, com abertura prevista para o dia 13 de abril.
Nesta exposição Marcelo, além de nos presentear com imagens de tirar o fôlego, feitas durante sua imersão na aldeia Munduruku, localizada no Baixo Tapajós, nos faz compreender um pouco melhor a cultura desse povo e questionar a maneira como a sociedade de consumo avança sobre as comunidades tradicionais. Para concluir, ele ainda nos convida a participar dessa realidade contribuindo para a construção da Escola de Cultura, Floresta e Medicina Munduruku, com o intuito de preservar o conhecimento desta etnia e facilitar a transmissão destes saberes para as futuras gerações e para quem mais tiver interesse em aprender.
A cada passo que ele dá fica mais visível sua dedicação e sua busca pela melhor maneira de passar para o público, através de suas imagens, todas as coisas maravilhosas que tem guardado dentro de si.