DO XINGU PARA O OUTRO LADO DO OCEANO – GENEBRA E OMPI
Nos meus sonhos mais insanos nunca imaginei que teria a oportunidade de apresentar o trabalho da Yankatu em Genebra e que ele seria tão bem recebido. Emociona ver os olhos estrangeiros brilhando e os sorrisos se abrindo ao se depararem com a riqueza artesanal do Brasil.
O que me deixa ainda mais feliz foi que o convite para participar da exposição Empreendedorismo Social – Identidade e Saber Local veio porque a Yankatu foi enxergada como um todo, desde a relação com o artesão, à maneira como desenvolve os projetos, a qualidade e beleza das obras apresentadas e também como as relações que nascem a partir daí se mantém vivas mesmo com o passar dos anos. Um exemplo desta continuidade está representado pelo trabalho em cerâmica da querida Deuzani, artesã do Vale do Jequitinhonha com quem trabalhei a primeira vez em 2017, e que hoje participa da Fruteira Tradições, junto com o trançado de palha da comunidade de Urucureá, que foi a base do projeto de 2019 e a inspiração para a coleção Alma-Raiz apresentada na exposição.
Quando a Yankatu começou a única coisa que eu sabia é que era apaixonada pelo Brasil, seu artesanato, seus artesãos, sua fauna e flora, suas tradições e energia vibrante, e que queria mostrar para as pessoas a beleza que eu enxergava, mas que sentia que nem todo mundo via. Queria que ao olharem para o artesanato brasileiro vissem além, enxergassem os artesãos trabalhando, os locais onde eram feitos, as histórias que traziam incrustradas no trançado, no laço, na cor, no desenho. Queria que enxergassem a beleza e importância de cada detalhe, respirassem o ar da floresta, sentissem a brisa no campo, ouvissem o canto dos pássaros. Queria que soubessem quanto conhecimento têm aqueles que pintam com penas de galinha, criam cores com frutos, folhas e raízes, dão vida à pedra, transformam palhas em cestos, barro em vasos cintilantes, traduzem suas histórias e regiões através das mãos.
Quis tanto isso que por diversas vezes tomei decisões aparentemente nada comerciais para não abrir mão do meu propósito, não desviar a rota. Tanto que uma vez ouvi de um artesão querido que eu mais parecia uma ONG. É que eu acredito que é possível ter impacto social sem ser precisarmos ser ONGs, é possível desenvolver relações onde todos se beneficiam… talvez seja esse um dos pilares do meu trabalho. Tanto que ela foi selecionada como exemplo bem-sucedido de valorização da cultura local, geração de renda, inclusão social e empoderamento feminino.
Em Genebra tive a oportunidade de apresentar diferentes tradições artesanais brasileiras para diretores de fundações, institutos, museus, fundos de investimentos e empresas. Falei muito, mostrei fotos de trabalhos de artesãos de norte a sul do país com o intuito de divulgar as inúmeras possibilidades para desenvolvimento de trabalhos que, além de belos, irão ajudar comunidades a ter geração de renda sustentável e a manutenção de técnicas tradicionais que correm o risco de desaparecerem por falta de um mercado que entenda o seu valor. Difícil foi saber o que apresentar dentre as inúmeras técnicas e comunidades que existem no Brasil! Para isso contei com as queridas Josiane Massom e Helena Kussik, da Artesol que me ajudaram a verificar necessidades e características de cada tipologia e bioma.
Eu passei os dias acompanhada pela embaixadora Susan Kleebank, o grande coração por trás da montagem da exposição e da teia de contatos incríveis que tive, da Eliane Guglielme, diretora do Museu A Casa do objeto Brasileiro e a Mariana Berutto, que junto com a Viviane Fortes, trouxe para a exposição o trabalho das Tecelãs de Tocoiós e das Bordadeiras do Curtume. Quando não estava participando de reuniões, visitava os museus da cidade, que possuem coleções belíssimas e imperdíveis para quem ama entender um pouco mais sobre história e cultura. E, é claro, parava de vez em quando para tomar um café e comer um docinho, assim aproveitava para observar o movimento da cidade, suas cores e rostos, procurando absorver tudo que foi possível durante os 5 dias que passei na cidade.
Enquanto tudo isso acontecia ainda tive o privilégio de ver postada pela equipe de design do Instagram, @design, a matéria sobre a entrevista que dei para a Kerri e a Kristen na galeria da Yankatu, em São Paulo, alguns dias antes de viajar. Mais uma vez me emocionei, pois elas vieram de Nova Iorque e escolheram a Yankatu como um dos lugares a serem visitados durante sua estada na cidade. Elas traduziram as duas horas e meia que falei sem parar (até eu me assusto comigo de vez em quando!) em posts que não deixaram escapar nada, captaram com carinho a essência da Yankatu e ainda terminaram a visita abraçadas com o Koda, meu amor em forma de Husky Siberiano, que aparece na última foto dos stories comigo.
E não para por aí, enquanto tudo isso estava rolando, ainda segui com o novo projeto: XINGU.
Pedi ao Stive, meu querido amigo Mehinako que faz bancos maravilhosos, que colhesse na região da aldeia Kaupuna cascas e folhas de árvores, frutos e flores, das árvores utilizadas por eles na construção das ocas, no artesanato e em rituais, e enviasse para a Maibe, que é pesquisadora botânica e faz um trabalho lindo na Mattricaria lá em Brasília, para ela descobrir as propriedades tintoriais da região.
A ideia é trazer o Xingu de todas as formas na próxima coleção da Yankatu!
Logo mais vou para aldeia outra vez, desta vez levando comigo ainda mais sonhos! Na próxima carta conto mais sobre a pesquisa, o projeto, as pessoas e as emoções!
Um abraço, com carinho,
Maria Fernanda Paes de Barros