PROJETO KULÁ

Propondo novas lixeiras para os espaços públicos.

LIXEIRA KULÁ

O Projeto KULÁ visa propor uma nova forma de olharmos para as lixeiras, criando sua estrutura a partir do plástico descartado e trazendo a presença da cultura indígena para as metrópoles, reafirmando sua importância na sociedade e abrindo espaço para pensarmos as relações entre diferentes povos e culturas.

MATERIAIS

Plástico reciclado e miçangas.

MEDIDAS

26.6 x Ø 13.7 in
60 x Ø 35 cm

 

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O grande propósito da Yankatu é trazer à tona as tradições brasileiras por meio do design e da arte, contribuindo para a transmissão de cultura e de informação sobre os artesãos brasileiros e os biomas onde estão inseridos, realizando trabalhos com respeito, equilíbrio e harmonia, ampliando vozes e gerando impacto social.

O Projeto Kulá une: 

ARTE – TRADIÇÕES ANCESTRAIS – IMPACTO SOCIAL – DESIGN – RECICLAGEM

Feitas em chapas de plástico reciclado, as primeiras unidades das lixeiras KULÁ foram adornadas pela arte Mehinaku, gerando impacto social, visual e sensorial, trazendo significados importantes para o momento atual e demonstrando que tradição e contemporaneidade podem e devem caminhar juntas.

Nas lixeiras KULÁ os tradicionais colares indígenas feitos com miçangas tiveram suas proporções e materiais revistos para se adequarem a necessidade de permanecerem no tempo e em contato direto com o público, mas a maneira das mulheres confeccioná-los, sentadas no chão com uma bacia cheia de miçangas entre as pernas e as mãos segurando uma agulha fina e comprida, em constante movimento, foi mantida.

As miçangas coloridas tradicionalmente com 1,5 mm de espessura cederam lugar para miçangas Jablonex de 4,6 mm, produzidas na República Tcheca e reconhecidas por sua durabilidade. Os fios encerados também foram substituídos por fios de pesca reforçados, mais resistêntes às intempéries e ao descuido humano.

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As lixeiras Kulá são confeccionadas a partir do reaproveitamento de sacos plásticos, embalagens e excedentes industriais, envolvendo cooperativas e recicladoras na separação e triagem do material. Elas possuem sistema de instalação de sacos de lixo por meio de aros de metal cilíndricos internos, eliminando interferências e incentivando o público a repensar o que é lixo e como deve ser descartado, em sinal de respeito com o planeta que todos nós habitamos.

As primeiras peças instaladas podem ser vistas no Parque Linear Bruno Covas, num projeto com curadoria de Marc Pottier para a Farah Service. A cada nova localização o projeto visa viabilizar o trabalho com os diferentes povos indígenas em seu entorno, ampliando o a visibilidade de suas culturas e tradições, contribuindo para reflexões acerca das relações entre a arte, o design, a produção artesanal, o espaço público e o patrimônio cultural indígena.

O PROJETO KULÁ VISA CONTRIBUIR PARA:

Autonomia das mulheres uma vez que será estabelecida uma relação de trabalho direta com elas.

Geração de renda por meio da própria tradição

Incentivo aos jovens indígenas, demonstrando que é possível inovar ao mesmo tempo em que as culturas ancestrais são mantidas.

Sustentabilidade cultural e material.

Economia circular propondo um modelo restaurativo e regenerativo no que diz respeito ao plástico reciclado utilizado para produção das peças.

Disseminar conhecimento as diferentes tradições e culturas dos povos indígenas.

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O POVO MEHINAKU

Localizado no Território Indígena do Xingu, no estado de Mato Grosso, Brasil, o povo Mehinaku vive de acordo com seus costumes e cultura, agrupando-se em aldeias circulares, vivendo em ocas que costumam abrigar famílias inteiras.

O seu trabalho é diário, tanto nas roças, na caça e na pesca, como na preparação dos alimentos e na confecção de artesanatos. Aos homens cabe a confecção de bancos zoomorfos em madeira, máscaras, remos, arcos e flechas, cocares, brincos e os cestos para carregarem a mandioca, alimento tradicional da etnia. As mulheres revezam-se nos cuidados com as crianças e com a alimentação e a elaboração de colares e pulseiras com miçanga coloridas, esteiras, redes e cestos que trançam fios de algodão à palha de buriti, palmeira tradicional da região. O grafismo presente nas pinturas e tessituras é parte importante de suas tradições, adornando seus corpos e suas artes, apresentando diferentes significados.

O povo Mehinaku mantém vivo o idioma Aruak e é conhecido por seus rituais, tais como Tajuara, Tawarawana e Kuarup, quando se enfeitam com colares, brincos e cocares, pintam os corpos com urucum, jenipapo e carvão, dançam, cantam e tocam flauta em longas comemorações.

AS MULHERES

As mulheres Mehinaku costumam deixar suas aldeias apenas acompanhadas de seus pais, irmãos, maridos ou filhos. Como o contato do povo Mehinaku com o mundo do homem branco é relativamente recente, elas ainda têm dificuldades na leitura desse novo universo, tanto culturalmente quanto pelo domínio da língua e da escrita, tornando-se naturalmente mais vulneráveis.

Essa relação está evoluindo lentamente, mas ainda gera dificuldades na continuidade de seus estudos e também em sua autonomia, pois as mantém dependentes dos homens para realizarem a comercialização de seus artesanatos.

O projeto KULÁ, que significa miçanga em Aruak, pretende gerar autonomia comercial e financeira para as mulheres da aldeia Kaupüna valorizando seus saberes, sem, contudo interferir em suas tradições.

 

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AS MIÇANGAS

As miçangas entraram em contato com os povos indígenas no início da colonização do Brasil, trazidas pelos portugueses. Elas foram incorporadas às suas principais manifestações estéticas e aos seus rituais ao lado da pintura corporal e da ornamentação com dentes, conchas, sementes e penas, num lindo processo de assimilação e transformação de algo exterior em algo interior, tecendo caminhos entre as diferentes culturas que habitam um único mundo.

As mulheres costumam fazer os colares com pequeninas miçangas, passadas em um fio delicado, por meio de uma agulha fina e comprida. São movimentos rápidos que fazem as miçangas deslizarem aos poucos, somarem-se em voltas e mais voltas, que às vezes chegam a passar de duzentas. Pequenas contas que unidas por um único fio enfeitam corpos nus, que dançam juntos em rituais sagrados, acompanhados pelos cantos, o som das flautas e dos pés ao baterem no chão em sincronia.

São esses colares que permanecem unidos em torno das Lixeiras KULÁ, em movimentos de sobe e desce que por vezes se sobrepõem, valorizando ao mesmo tempo a identidade de cada um e a força do conjunto.

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